quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Spot

Durante uns 3 anos da vida freqüentei o Spot quase semanalmente e lá não é um local de interação. É um lugar pra ver e ser visto, descobrir que São Paulo tem muito mais gente bonita e interessante do que achamos. As pessoas vão lá em grupos/duplas e é como se fosse um posômetro(termo que acabei de inventar)/aquário de gente descolada. Conseguir mesa lá é difícil se você chega depois de 20:10 (o lugar abre às 20:00). Disputadíssimo, todos os dias da semana. Tem um bar onde espera-se pela mesa ou apenas toma-se um drink. Na minha época não havia o jardim que agora fica lá fora onde a maior parte das pessoas espera.
Por que escolhi lá então para uma aventura? Já já você vai entender.
Primeiro devo honestamente confessar que quase desisti desse projeto hoje. Rs. Falei com um amigo e disse que achava que ia adiar pra amanhã e ele riu:"Ih, olha lá, já tá se auto-sabotando. Já vi tudo." Óbvio que quem me conhece sabe que fiquei mordida. Maquiagem, vestido, salto, bolsa. Carro. Paulista. Porta rotatória do Spot. Ah, essa porta...tantas lembranças....O Spot é um dos meus lugares favoritos em São Paulo. Tem um astral, uma vibração. A iluminação com velinhas é a marca registrada. Descolado e casual ao mesmo tempo.
Agora, riam um pouco de mim....
De fora vi que tinha lugar no bar e pensei...entro, sento no bar, tomo meu drinque e vou absorver o lugar....Ledo engano! Mal piso lá dentro vem o Vitinho pra cima: "Mesa pra quantos?" Eu vou aguardar no bar. "Sim, mas você quer deixar seu nome pra mesa?" Quero. Morram de rir: e se ele me dissesse que só podia ficar se fosse pegar mesa? Rs. Sem comentários. "Mesa pra dois." Depois eu vejo o que faço. Quando você está quebrando vários pactos sociais, uma mentirinha assim, tudo bem...Só que o Vitinho me atrapalhou. Eu tinha avistado uns bancos livres no bar e queria correr pra lá, mas nesse terêtêtê, dancei. Três caras pegaram os bancos. Um deles, lindo. De babar. Deve ser sobrinho do Malvino Salvador. Ok, fico aqui de pé nesse cantinho do bar.
Respirando esse ar dourado, ouvindo os sons do bar, das mesas. Não conversar nos permite olhar, perceber...
Uma água com gás, por favor.
Foi ai que a coisa mais fantástica na minha relação com o Spot aconteceu. O barman, que lá também sempre é parente do Malvino, me respondeu com uma piscadinha. É claro que não foi uma piscadinha de   xaveco. E a cada coisa que eu pedia, ele respondia com uma piscadinha. Um Blood Mary com vodka nacional, por favor. Piscadinha.
Mais uma água por favor. Piscadinha.
Enquanto eu olhava todas aquelas pessoas lindas, curtia aquele som das conversas, consegui um banco, fiquei também inconscientemente pensando. Por que será que ele responde com essa piscadinha simpática? Ele não está piscando pra mais ninguém. Aliás, é até bem frio com todos os outros clientes. O que, naturalmente, é tipico so Spot. Faz parte da atmosfera essa afetaçãozinha de distanciamento. Essa pose. Os garçons e garçonetes convencidos. Rs. Como assim?
Fui reparando também nas ações das pessoas perto de mim enquanto eu calmamente bebia meu Blood Mary no tão cobiçado recém conquistado banquinho do bar.
Ao meu lado, um trio. Dois caras e uma loira de cabelo curtinho modernex no meio dos dois. Ela, a cada cinco minutos me olhava. O que será que tava pensando?
Dali a alguns minutos, o cara com ela acabou o vinho e pediu um Blood Mary igual ao meu. Nada comum homem bebendo Blood Mary. Mas também, verdade seja dita, nada comum uma mulher sozinha num bar de restaurante em que ninguém costuma ir sozinho, nem homem.
A conta, por favor. Piscadinha.
As pessoas, num lugar assim, prestam atenção em tudo.
Paguei. Piscadinha.
Do meu lado tinha dois caras. Assim que comecei a virar o banquinho, o que estava de pé começou a andar em direção ao banco. Claro que ele tinha me visto pagar, mas nossos olhares se cruzaram e ele perguntou in gentleman-like style: "Desculpa, você tá saindo?" Estou sim. As pessoas ficam exageradamente gentis às vezes.
Ando pro carro e finalmente entendi porque o barman me deu tantas piscadinhas. O ser humano é um ser social. Fato. Mesmo do alto do estilo "I'm too sexy for my shirt", ele, provavelmente inconscientemente, criou ali pra mim um momento de interação, de "olha, estou te percebendo e cuidarei com atenção de você".
Ai você me pergunta, por que então escolhi ir no Spot pra inaugurar o projeto? Afinal, o que meu amigo me disse que quase me dissuadiu de ir: "Mas justo no Spot? Eu lembro da X (uma amiga em comum) dizer que lá não é um lugar pra se ir sozinho. As pessoas reparam..."
O tempo todo que fiquei ali, exatos 55 minutos, eu fiquei extremamente consciente de mim e dos outros. Os detalhes saltaram aos olhos. A aventura da noite foram esses detalhes. Foi a grande aventura de ser simplesmente eu. De ter que estar consciente. De ter que estar segura e tranqüila. Sim, as pessoas reparam. Que reparem. Porque eu renasci.
Conta: 27, 80
Maior aventura da noite: piscadinhas do barman
Horário de chegada em casa: 22:10

sábado, 8 de janeiro de 2011

Não foi planejado. Acho que foi a interseção da necessidade com o desejo com o acaso. O fato é que eu resolvi dar uma de volta de carro por São Paulo. Sábado a noite. Mulher sozinha. Recém-separada. Subi a Rua Augusta, desci a Bela Cintra, peguei a Paulista, voltei pra Itu, desci a Pe. João Manoel e depois cruzei a Estados Unidos. Lembrei do Profissão Repórter que mostrou uma reportagem sobre a noite em São Paulo. Mas que droga, se eu estivesse namorando, poderia ir com ele lá no Squat. Um bar descolado na Itu. Ele tinha me contado que foi num bar sozinho. Inveja. Homem fazer isso é a coisa mais natural do mundo. Não que eles façam, mas não causa estranhamento em ninguém.
Sempre tive coragem de fazer coisas sozinha. Viajei sozinha pra Chapada dos Guimarães. Já fui em balada sozinha. Cinema, direto. Assim que me separei, viajei pro Litoral Norte sozinha. SOZINHA. Tenho uma amiga que ficou de queixo caído quando contei que ia pra Camburi by myself. As amigas não acreditam mas acham o máximo. Dizem que gostariam de ter a minha coragem.
Não é uma questão de coragem. É vontade. É liberdade. É ter confiança na própria compania.
Eu não sou freak, nem solitária. Tenho muitas amigas. Tenho colegas. Converso com todo mundo, sou alto astral. Divertida. Maluquinha, dizem. Adoro esporte. Nado todo dia, faço aula de spinning, musculação. Tudo com prazer. Adoro a luz do dia. Adoro a noite. Não sou nenhum tipo de "nerd" que não tem amigas/amigos pra sair. Desde que me separei, não me faltou compania. Saí com amigos todas as vezes que tive vontade. Fiquei em casa quando estava fazendo meu luto. Processando a perda. Passei o Ano Novo em uma festa super legal com amigas muito alto astral.
Mas saio bastante sozinha. Gosto. Não sinto constrangimento nem medo.
De volta aos Jardins, eu via todos aqueles bares, baladas. Gente na rua. Risadas. Manobristas. E me olhava no carro. Eu de short, camiseta e tênis. Três cores diferentes, sem combinar. Olhava fora. Olhava dentro. Tentava achar uma conexão. Saudável.
Não sou adolescente. Longe disso. Não tenho mais estômago pra comportamentos auto-destrutivos. Há três meses, me dei um anel de compromisso comigo mesma. Uma aliança tripla. 1- Compromisso de me amar. 2-De me respeitar. 3-De me tratar com carinho e delicadeza. Então aviso: essas três regras, inflexíveis. Apenas quero interagir com o mundo, de um modo livre, alegre, leve.
Toda vez que saí ou viajei sozinha vivi grandes aventuras. Perdi o fôlego. Enfrentei os medos. Expandi meus limites. Vivi o mundo de dentro.
Quando saímos com amigas/os é sempre muito bom. Mas é como se um muro de vidro invisível nos envolvesse. Rede de proteção.
Sou a favor de uma vida segura, sem riscos bobos. Mas amo me entregar ao mundo. Sem redes de proteção imaginárias. Para que a vida chegue. Interação. Surpresa. Fluxo do impossível.
Foi na esquina da Augusta com a Paulista que tive a idéia. De sair, uma vez por semana, durante UM ANO, SOZINHA, e ir a algum bar ou balada. Uma mulher. Desacompanhada. Feliz. Alegre. Destemida. E contar isso num blog. Quem sabe não inspiro alguma outra mulher a ter coragemd e se bastar...de não precisar. Contar como é o lugar, que tipo de pessoas vão nessa Balada, que tipo de emoção acontece e cada uma delas. Atmosfera. Vibe.
Não estou em busca de "conhecer alguém". Não busco buscas. Segura de mim, presente no momento, quero contato com a vida vibrante de São Paulo. Quero o mundo pra mim. Quero o presente. A ação e a reação. Vida.
Resolvi começar imediatamente. Só que não dava pra ir a um bar, já que eu estava vestida pra assistir televisão. Fui ao McDonald's da Rebouças tomar um café. Sem surpresas.
A segunda coisa mais legal da noite, (a primeira foi a minha idéia desse projeto), fechou a noite. No carro, pensando: eu confio na energia do mundo. Eu confio que desejar é realizar. Que o universo conspira a nosso favor. Olho pro lado e vejo dois homens em um carro, cantando e dançando feito loucos, hiper animados e nem um pouco preocupados com o mundo à volta. Eles buzinam pra mim e pedem pra eu abaixar o vidro. "Onde você tá indo?". Pra casa. "Ah, não acredito! Olha essa noite". Pois é. "Nós somos do interior. Onde tem um lugar com música sertaneja?". Penso. Ah, é um lugar no Sumaré. Esqueci o nome. "Vila Country?" Isso. "Ah a gente tava lá, muito cheio..." Sorrio e encolho os ombros. Só sei esse..."Ok, obrigada, Linda. Boa Noite". Divirtam-se. Ele pisa no acelerador e some de vista.
Mal comecei a brincadeira e já me diverti com esses dois. A vida é muito simples.
Semana que vem irei ao primeiro bar sozinha. Escolhi um que eu ia bastante há um tempo atrás, na região da Paulista. Até lá.
Horário de chegada em casa: 1:25.